Cyber Security Brazil - Relatório de segurança e previsões para 2026
- Cyber Security Brazil
- há 17 horas
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Em 2025, a cibersegurança deixou de ser “um jogo de exploits” e passou a ser, cada vez mais, "um jogo de escala". A inteligência artificial entrou de vez no campo não só como tecnologia de defesa, mas como um acelerador para ataques mais rápidos, mais baratos e mais convincentes. Ao mesmo tempo, o ransomware seguiu amadurecendo como indústria, com extorsão, vazamento de dados e exploração de terceiros se tornando parte do modelo operacional de muitos grupos criminosos. O resultado foi um cenário mais barulhento, mais imprevisível e mais desgastante para as equipes de segurança, que precisaram extrair sinal em meio a um volume crescente de alertas, riscos e decisões.
Para 2026, a tendência é clara: "A automação vai deixar de ser suporte e virar protagonista". Agentes de IA devem começar a operar dentro de SOCs, pipelines de TI e fluxos de negócio trazendo ganhos reais de velocidade, mas também novos riscos: prompt injection mais “industrializado”, modelos conectados a fontes externas (RAG) com possibilidade de vazamento e envenenamento, e o desafio de tratar agentes como identidades digitais com privilégios e rastreabilidade. Em paralelo, a pressão por redução de superfície de ataque, segurança de cadeia de suprimentos e resiliência operacional aumenta e, em alguns setores, o Zero Trust tende a migrar de boa prática para exigência de compliance.
Neste relatório, a CyberSecBrazil organiza o que 2025 ensinou e o que 2026 deve cobrar, traduzindo tendências em ações práticas. A proposta é simples: transformar previsões em um plano de execução com foco em governança de IA, fundamentos operacionais (least privilege, patching contínuo, exposição), inteligência acionável, e preparo real para incidentes que não chegam mais “devagar”.
Visão executiva
O ano de 2025 consolidou três movimentos que mudaram o “ritmo” da segurança: crescimento do uso de IA por atacantes e defensores, amadurecimento do modelo de extorsão (ransomware + vazamento + pressão) em escala industrial, e elevação do papel de Threat Intelligence (CTI) para decisões estratégicas (investimentos, riscos e priorização).
Para 2026, a tendência dominante é que agentes de IA deixem de ser “feature” e virem atores digitais operacionais: exigindo governança, identidade, telemetria e controles “secure-by-design”, enquanto o crime mantém foco em extorsão, engenharia social aumentada por IA e exploração de pontos de falha sistêmicos (terceiros, supply chain, infraestrutura).
Como foi 2025
IA deixou de ser “futuro” e virou multiplicador de ataques:
Em 2025, relatórios de mercado reforçam que a IA baixou a barreira de entrada e ajudou atacantes a escalar volume e sofisticação, criando pressão por “encontrar sinal no ruído” e evitar burnout das equipes.
Extorsão em escala: ransomware + vazamento como ecossistema maduro
A extorsão permaneceu como uma das categorias mais disruptivas, com sinais claros de maturidade do ecossistema: 2.302 vítimas em sites de vazamento (DLS) no Q1 2025, o maior trimestre desde o início do tracking (2020), com grupos explorando terceiros e zero-days para atingir volume.
CTI ganhou status “core” e mais estratégico
O CTI se fortaleceu: 76% das organizações pesquisadas investem US$ 250 mil+ por ano em threat intelligence; e 65% dizem que CTI influencia decisões de compra de tecnologia; 58% usam em avaliação de risco do negócio.
A consolidação também apareceu forte: 81% planejam consolidar fornecedores de CTI e 91% pretendem aumentar investimento em 2026 (não como corte, mas como priorização).
Previsões e prioridades para 2026 (o que mais deve importar)
“Agentic SOC” e identidade para agentes de IA":
A previsão para 2026 é a adoção acelerada de agentes de IA executando workflows e decisões e isso muda o desenho de segurança porque muitos controles não foram pensados para “operadores não-humanos”. A expectativa é tratar agentes como identidades digitais distintas, com least privilege, just-in-time, e cadeia de delegação (“agentic identity management”).
Em paralelo, o SOC tende a evoluir para um modelo em que analistas direcionam agentes, recebendo alertas já com sumário, decodificação e contexto para decidir e automatizar contenção mais rápido.
Prompt injection e ataques diretos a sistemas de IA:
O Google Cloud Cybersecurity Forecast 2026 aponta aumento relevante de prompt injection e ataques direcionados a sistemas de IA corporativos, migrando de PoCs para campanhas de exfiltração e sabotagem.
Extorsão continua (e pior): mais criatividade, mais coerção, mais zero-day:
A tendência para 2026 é mais ransomware e extorsão, com aumento de estratégias de acesso inicial via vishing e engenharia social para contornar MFA, além de uso crescente de zero-days em campanhas amplas.
Planejamento 2026: resiliência, exposição e supply chain como “pilares”
O guia de planejamento do Gartner para 2026 coloca foco em:
Redução de attack surface como parte central de defense-in-depth (incluindo CTEM)
Maturidade de software supply chain security e secure-by-design (incluindo apps de IA)
Controles para consumo de IA (treinamento + controles técnicos para evitar vazamento de dados)
SecOps augmentation (incluindo agentes no SOC)
Adoção de padrões: security-by-design, zero trust e CSMA
Previsões de mercado (Forrester): IA “cobrança por resultado” e corrida quântica:
Algumas apostas públicas do ecossistema de previsões 2026 da Forrester:
25% dos CIOs serão chamados a “salvar” iniciativas de IA lideradas pelo negócio que falharem (governança e execução).
Quantum security: gasto deve exceder 5% do orçamento total de segurança de TI, acelerando migração/consultoria/inventário criptográfico.
O que eu recomendaria como “linha de ação” (bem pragmático)
Catálogo de uso de IA (quem usa, onde, com quais dados) + política de dados (o que pode/ não pode). (Alinha com controle de consumo de IA).
Identidade para agentes: contas dedicadas, JIT, escopos mínimos, trilhas de auditoria e delegação.
Guardrails para LLM: sanitização de entrada/saída, confirmação humana para ações de alto risco, e detecção de prompt injection.
Redução de exposição e resiliência (até 6 meses)
Rodar um programa de CTEM e attack surface reduction com backlog priorizado.
Reforçar supply chain (SBOM onde possível, validações, gestão de dependências e terceiros críticos).
Preparar-se para mudanças do mercado de fornecedores (consolidação) sem criar pontos únicos de falha.
CTI como motor de decisão (contínuo)
Priorizar integrações e redução de overload (as dores mais citadas).
Fazer CTI “sair do SOC” e ir para GRC/IAM/fraude, como tendência de integração de workflows.
Matriz “2025 aprendizados → 2026 ações”
Aprendizado de 2025 | Ação prioritária em 2026 | Primeiros passos (30–60 dias) | KPI de acompanhamento |
IA virou multiplicador de ataque (mais volume/sophisticação e mais “ruído”) | Governança + controles de IA (uso corporativo, dados, auditoria) | Inventariar “AI use cases” e onde dados sensíveis entram/saem; criar política de uso e classificação para IA | % de use cases mapeados; incidentes de “shadow AI”/mês |
SOC tende a virar “Agentic SOC” (analista orquestra agentes) | SOC com automação orientada por agentes + SOAR | Definir 5 playbooks para automação (phishing, credenciais, malware, exfil, ransomware) e colocar “human-in-the-loop” | MTTR; % casos com playbook; tempo de triagem |
Shadow Agent (uso não aprovado cria pipeline invisível de dados) | Canal seguro para agentes (permitir com guardrails, não banir) | Criar “rota segura” (proxy/SSE + logging) para tráfego de ferramentas/agents; aprovar catálogo de agentes | % tráfego de IA “visível”; violações de policy |
Prompt injection sai do PoC e vai para exfiltração/sabotagem em 2026 | Proteção de aplicações LLM (guardrails input/output e validações) | Testes de segurança em prompts; sanitização de saída; confirmação humana para ações de alto risco | nº de tentativas bloqueadas; taxa de falsos positivos |
Ransomware + vazamento atingiu escala recorde (DLS 2.302 vítimas no Q1/2025) | Resiliência anti-extorsão (backup, contenção, exfil controls) | Revisar backups (imutável + teste de restauração); DLP/egress controls; tabletop de crise | RTO/RPO real; % restaurações testadas; tempo até contenção |
Acesso inicial via engenharia social evoluiu (vishing e técnicas para contornar MFA) | Defesa contra vishing + fraude de identidade | Treinar helpdesk/IT e líderes (procedimentos de verificação); bloquear resets por voz sem prova forte; alertas para “MFA fatigue” | nº de tentativas; % resets com verificação forte |
Terceiros viraram alavanca de escala (provedores e MFT/zero-days para muitos alvos) | Programa de risco de terceiros + “single point of failure” | Classificar terceiros críticos; exigir logs/telemetria; validar plano de resposta e comunicação | % terceiros críticos avaliados; tempo de resposta do fornecedor |
Superfície de ataque precisa ser reduzida continuamente (CTEM) | CTEM + hardening baseline (contínuo, não pontual) | Rodar ciclo CTEM trimestral; baseline de hardening para endpoints/servidores/cloud | redução de exposições críticas; tempo para corrigir |
Supply chain e secure-by-design viraram “core” (inclui produtos de IA) | SSDLC + segurança de dependências (SBOM/controles) | Definir gates no CI/CD (SAST/dep scanning/secrets); política de dependências; revisão de pipelines | % builds com gates; falhas críticas por release |
Consolidação de fornecedores é tendência (e risco de concentração) | Estratégia anti lock-in + plano de continuidade | Mapear dependências de plataforma; requisitos mínimos de portabilidade; plano de migração emergencial | nº SPOFs de fornecedor; tempo estimado de migração |
CTI virou peça estratégica (investimento, compra, risco e integração) | CTI integrado ao ciclo de decisão (SOC + GRC + vulnerabilidades) | Integrar TI com SIEM/SOAR e VM; definir “intelligence requirements” por negócio | % alertas enriquecidos; redução de ruído; decisões suportadas por TI |
Dores de CTI em 2025: credibilidade + integrações + overload | Curadoria + scoring de fonte + automação de integração | Criar score de fontes/feeds; matar feeds redundantes; playbook de “enrichment” padronizado | % fontes com score; queda em “info overload”; SLA de integração |
Em 2025, ficou evidente que não vence quem tem “mais ferramentas”, e sim quem tem mais clareza operacional: visibilidade real do ambiente, prioridade bem definida e capacidade de agir rápido quando o incidente acontece. O ano consolidou a IA como multiplicador tanto para atacantes quanto para defensores e mostrou que extorsão e cadeia de terceiros continuam sendo caminhos eficientes para impacto em escala.
Também ficou claro que Threat Intelligence só gera valor quando vira decisão: reduz ruído, orienta prioridade e melhora resposta, em vez de virar mais uma fonte de informação difícil de consumir.
Para 2026, o recado é direto: a superfície de ataque não é mais só “o que você expõe”, é o que você automatiza. Agentes, integrações e fluxos conectados (MCP, RAG, automações no SOC e no ITSM) aumentam produtividade, mas também ampliam riscos se não houver governança, identidade, telemetria e limites de autonomia.
Por isso, a preparação que realmente importa combina três frentes: fundamentos bem executados (least privilege, patching contínuo e redução de exposição), resiliência anti-extorsão (conter rápido, recuperar mais rápido ainda e controlar exfiltração), e segurança de IA “by design” (guardrails, controles de dados e trilhas de auditoria).
O que separa as organizações que vão “apagar incêndios” das que vão atravessar 2026 com maturidade é a capacidade de transformar aprendizados em rotina: medir, automatizar com responsabilidade e corrigir continuamente. A tecnologia vai acelerar e o ataque também. A diferença estará em quem trata segurança como processo vivo, não como checklist.



