top of page

Como a guerra tarifária Brasil-EUA pode afetar o setor de cibersegurança

  • Foto do escritor: Orlando Santos Cyber Security Brazil
    Orlando Santos Cyber Security Brazil
  • 10 de jul.
  • 4 min de leitura
ree

A recém-declarada guerra tarifária entre Brasil e Estados Unidos, iniciada pela imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e a promessa de reciprocidade por parte do governo brasileiro, transcende a economia tradicional. Suas ondas de choque ameaçam atingir um dos setores mais críticos e sensíveis da atualidade: a cibersegurança.


Longe de ser um mero espectador, o setor de segurança cibernética brasileiro encontra-se no epicentro de uma tempestade perfeita, onde os custos de defesa aumentam ao mesmo tempo em que o cenário de ameaças se torna mais complexo e politizado.


A Cyber Security Brazil fez uma analisa dos quatro principais eixos de impacto desta disputa para as empresas, o governo e os profissionais de segurança no Brasil.


1. O Encarecimento da Defesa: O Custo Proibitivo das Ferramentas Americanas


Não é segredo que o ecossistema de cibersegurança brasileiro é altamente dependente de tecnologia norte-americana. As soluções líderes de mercado em áreas como firewalls de próxima geração (NGFW), proteção de endpoints (EDR), plataformas de gerenciamento de eventos e informações de segurança (SIEM), e serviços de inteligência de ameaças (threat intelligence) são, em sua vasta maioria, desenvolvidas e comercializadas por empresas dos EUA.


Uma retaliação brasileira por meio de tarifas sobre softwares e hardwares de segurança resultaria em um impacto direto e imediato:

  • Aumento nos Custos de Aquisição e Renovação: Empresas e provedores de serviços de segurança gerenciados (MSSPs) enfrentariam um aumento substancial nos custos para adquirir novas tecnologias ou renovar licenças e assinaturas existentes. Um firewall ou uma plataforma de EDR que custava X, poderia passar a custar X + tarifa, tornando a proteção de qualidade um artigo de luxo.

  • Redução do Orçamento de Segurança: Com o encarecimento das ferramentas, o orçamento de cibersegurança das empresas, muitas vezes já limitado, seria consumido apenas pela manutenção do status quo, deixando pouco ou nenhum recurso para investimentos em novas áreas, como segurança em nuvem, IA ou para a contratação de novos talentos.


2. Ciberataques como Arma Geopolítica


Conflitos geopolíticos e comerciais raramente ficam restritos a declarações e tarifas. O ciberespaço é, cada vez mais, o campo de batalha oculto onde as nações exercem pressão e demonstram força.


O atual clima de hostilidade eleva drasticamente o risco de o Brasil se tornar um alvo prioritário para diferentes grupos de atores de ameaça:

  • Atores Ligados ao Estado (State-Sponsored): Grupos de hackers patrocinados pelo governo americano ou por nações aliadas poderiam intensificar campanhas de espionagem cibernética contra alvos estratégicos brasileiros, como ministérios, bancos, empresas de energia e de defesa, buscando informações privilegiadas que possam ser usadas como vantagem nas negociações comerciais.

  • Aproveitadores do Caos: Grupos de ransomware e outros cibercriminosos, sem afiliação estatal direta, podem ver o conflito como uma oportunidade. Eles podem se sentir mais seguros atacando alvos em um país que está em desacordo diplomático com as nações onde operam, apostando na falta de colaboração policial internacional para investigar e puni-los.


3. Insegurança Jurídica e a Batalha pelo Fluxo de Dados


A investigação "Seção 301" anunciada pelos EUA contra as práticas de comércio digital do Brasil adiciona uma camada de complexidade legal devastadora.


A investigação mira diretamente a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e decisões judiciais brasileiras.


Isso cria um cenário de profunda incerteza para a cibersegurança:

  • Transferência Internacional de Dados em Risco: A maioria das soluções de segurança em nuvem processa e armazena dados em servidores localizados nos EUA. A disputa pode colocar em xeque a validade dos mecanismos que permitem essa transferência internacional de dados sob a LGPD. As empresas brasileiras podem se ver em um limbo jurídico: ou continuam usando suas ferramentas de segurança e arriscam não conformidade com a LGPD, ou buscam alternativas nacionais ou europeias, um processo caro e complexo.

  • Complicação na Resposta a Incidentes: Uma investigação de um grande ataque cibernético frequentemente exige colaboração e troca de dados forenses com fabricantes de tecnologia e agências nos EUA. A deterioração das relações diplomáticas pode dificultar ou até bloquear essa cooperação essencial, atrasando a contenção de ameaças e a recuperação de sistemas.


4. O Dilema dos Talentos e a Chance para o Mercado Nacional


Para os profissionais da área, o cenário é ambíguo. Por um lado, uma possível redução de investimentos de big techs americanas no Brasil poderia encolher o mercado para cargos de ponta.


Por outro lado, a crise pode se tornar um catalisador para a indústria nacional. Com as soluções americanas mais caras e politicamente arriscadas, a demanda por produtos e serviços de cibersegurança "Made in Brazil" pode disparar.


Empresas e startups brasileiras de segurança, que muitas vezes lutam por espaço contra os gigantes internacionais, podem encontrar uma oportunidade histórica para crescer, atrair investimentos e conquistar uma fatia maior do mercado doméstico.


Em conclusão, a guerra tarifária não é um problema distante para o setor de cibersegurança. Ela representa uma ameaça direta à capacidade das empresas brasileiras de se defenderem, ao mesmo tempo em que eleva o nível de risco cibernético a um patamar geopolítico.


Navegar por esta crise exigirá que os CISOs e gestores de TI reavaliem urgentemente seus fornecedores, preparem planos de contingência para o aumento de custos e, acima de tudo, fiquem mais vigilantes do que nunca, pois os ataques mais perigosos podem não visar apenas dados, mas a própria soberania digital do Brasil.


Esta história ainda está em desenvolvimento.

 
 
 

Comentários


bottom of page