Governo Espanhol cancela contrato de €10 milhões com equipamentos da Huawei

O governo espanhol cancelou um contrato de €10 milhões com a multinacional espanhola Telefónica que previa o uso de equipamentos da Huawei para modernizar a rede acadêmica e de pesquisa nacional, a RedIRIS. A rede conecta universidades, institutos de pesquisa e partes do Ministério da Defesa do país. A decisão, anunciada na última sexta-feira, reverteu um acordo firmado na semana anterior.

A mudança de rumo foi justificada por “razões de estratégia digital e autonomia estratégica”, conforme noticiado pelo jornal El País. O contrato, que visava atualizar mais de 16.000 km de infraestrutura, tinha como objetivo melhorar a resiliência da RedIRIS contra ciberataques e suportar novas demandas de serviços digitais, supercomputação e suas conexões com o setor de defesa.

A decisão do governo espanhol ocorre em meio a crescentes preocupações internacionais sobre a segurança de equipamentos fornecidos por empresas chinesas. A Telefónica já tinha um contrato de €5,5 milhões desde 2020 para reforçar a rede. A atualização, negociada diretamente, foi considerada urgente pelo Ministério da Transformação Digital.

O cancelamento reflete um dilema político. Por um lado, há a necessidade de modernizar a infraestrutura, mas por outro, o uso de tecnologia chinesa é visto como um risco para a segurança cibernética. Essas preocupações são frequentemente ligadas às atividades de ciberespionagem de Pequim e à Lei de Inteligência Nacional de 2017 da China, que, segundo o Centro Nacional de Segurança Cibernética do Reino Unido, permite que o Estado “obrigue qualquer pessoa na China a fazer qualquer coisa”. A Huawei tem consistentemente negado essas acusações.

A Espanha, que não impôs restrições amplas à Huawei em suas redes 5G, tem uma postura diferente da maioria dos seus aliados na OTAN e na União Europeia. Recentemente, o país se juntou a outros aliados em um alerta sobre empresas chinesas que poderiam comprometer a infraestrutura crítica mundial.

Além disso, o cancelamento do contrato ocorre após alertas de aliados, como os Estados Unidos, sobre a presença de equipamentos da Huawei na infraestrutura espanhola, incluindo a espinha dorsal da rede 5G da Telefónica. Em julho, líderes do painel de inteligência do Congresso dos EUA pediram que o chefe de espionagem do país investigasse as informações de inteligência compartilhadas com a Espanha, após a revelação de que o sistema de escuta telefônica do país usa tecnologia da Huawei.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, tem sido um dos líderes mais favoráveis à Huawei na UE, argumentando contra as tentativas do bloco de restringir a empresa.

A Huawei opera centros de pesquisa em Madri e é uma importante empregadora, atuando como contratada de tecnologia para diversas administrações públicas. Natasha Buckley, pesquisadora do RUSI e professora de cibersegurança na Universidade de Cranfield, afirmou à Recorded Future News que a abordagem da Espanha prioriza a confiabilidade da cadeia de suprimentos em detrimento das considerações geopolíticas, o que a diferencia de países como o Reino Unido, a Holanda e a Polônia.

A pesquisadora ressaltou que a postura do país é um “caso a caso” sem uma política clara para fornecedores de alto risco.

Via - RFN