Ciberataques russos colocam “a linha de frente em todo lugar”, diz nova chefe do MI6
- Cyber Security Brazil
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Em seu primeiro discurso público à frente do Serviço Secreto de Inteligência do Reino Unido (MI6), a nova diretora da agência, Blaise Metreweli, fez um alerta contundente sobre a ameaça representada por uma Rússia que classificou como “agressiva, expansionista e revisionista”, empenhada em subjugar a Ucrânia e intimidar a OTAN. A fala ocorreu nesta segunda-feira, na sede do MI6, em Vauxhall, Londres, e marcou a estreia pública da primeira mulher a comandar a agência desde sua fundação formal, em 1909.
Ao abordar o cenário de ameaças híbridas enfrentado pelo Reino Unido, Metreweli destacou que Moscou tem atuado na chamada “zona cinzenta”, utilizando táticas que ficam abaixo do limiar de um conflito armado direto. Segundo ela, as tentativas do Kremlin de “intimidar, espalhar medo e manipular” não afetam apenas governos, mas toda a sociedade. “A linha de frente está em todo lugar”, afirmou, citando ataques cibernéticos contra infraestruturas críticas, drones sobrevoando aeroportos e bases militares, atividades hostis no mar acima e abaixo da superfície, além de atos de sabotagem, incêndios criminosos patrocinados pelo Estado e operações de propaganda e influência destinadas a explorar divisões internas nas sociedades ocidentais.
A diretora do MI6 também sinalizou a intenção do Reino Unido de intensificar a pressão sobre o Kremlin. Para ela, a “exportação do caos” faz parte da estratégia russa de atuação internacional e tende a continuar até que o presidente Vladimir Putin seja forçado a rever seus cálculos. O discurso reforça alertas recentes feitos por autoridades britânicas sobre a conexão entre ataques cibernéticos conduzidos por hackers ligados ao Estado russo e danos físicos em território britânico.
No início do mês, o governo do Reino Unido impôs sanções a toda a agência de inteligência militar da Rússia e a diversos de seus oficiais cibernéticos, após uma investigação pública concluir que o órgão foi responsável por um ataque com agente nervoso que matou uma pessoa no país em 2018.
Na semana passada, outras organizações russas e chinesas também foram sancionadas, acusadas de tentar minar o Ocidente por meio de ataques cibernéticos e operações de influência. A secretária de Relações Exteriores, Yvette Cooper, afirmou que a Europa vive uma “escalada de ameaças híbridas”.
Do ponto de vista operacional, Metreweli declarou que o MI6 pretende “afiar sua capacidade e impacto com audácia”, evocando o legado da Special Operations Executive, agência clandestina da Segunda Guerra Mundial famosa pela ordem de Winston Churchill para “incendiar a Europa”. Segundo ela, embora o Reino Unido não adote as táticas de seus adversários, é necessário superá-los “em todos os domínios, de todas as formas”.
Com uma carreira iniciada no MI6 em 1999, Metreweli atuou recentemente à frente da divisão responsável por tecnologia e inovação, conhecida como o “Q Branch” da vida real. Sua nomeação reforça o debate interno entre a inteligência humana clássica baseada em agentes e operações infiltradas e os métodos modernos apoiados em tecnologia, como análise massiva de dados, biometria e inteligência artificial.
A nova chefe destacou que o domínio tecnológico precisa estar presente em toda a atuação da agência, do laboratório ao campo. “Precisamos ser tão confortáveis com linhas de código quanto com fontes humanas, tão fluentes em Python quanto em vários idiomas”, afirmou, ressaltando, no entanto, que o maior desafio do século XXI não é apenas quem detém a tecnologia mais poderosa, mas quem a conduz com maior sabedoria e responsabilidade.
Via - TR







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