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O cérebro será a próxima commodity da era digital

  • Foto do escritor: Orlando Santos Cyber Security Brazil
    Orlando Santos Cyber Security Brazil
  • 28 de out.
  • 3 min de leitura

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À medida que a neurotecnologia avança para além dos limites da medicina e se integra a dispositivos de consumo cotidianos, o conceito de privacidade humana enfrenta sua fronteira mais crítica: a mente. Nita Farahany, uma das principais especialistas mundiais em privacidade de dados neurais e presidente do Comitê de Estudos sobre Privacidade Mental da Comissão de Leis Uniformes, soa o alarme sobre a iminente mercantilização dos pensamentos e emoções, defendendo a urgência de uma legislação que proteja o direito de pensar livremente.


Em entrevista recente ao Recorded Future News, Farahany, também autora do livro "A Batalha Pelo Seu Cérebro: Defendendo o Direito de Pensar Livremente na Era da Neurotecnologia", enfatizou que o maior perigo reside em transformar o cérebro, hoje um "espaço seguro", em algo acessível e rastreável, como já ocorre com quase todos os aspectos da vida digital. A falha em proteger essa área fundamental pode resultar na perda não apenas da privacidade, mas da própria autonomia humana.


A Era da Interface Neural Generalizada


Farahany projeta um cenário de "interface neural generalizada", onde a tecnologia de sensores e a Inteligência Artificial (IA) se combinam para tornar a neurotecnologia ubíqua. Ela observa que, assim como dispositivos vestíveis (wearables) medem frequência cardíaca e temperatura, a próxima geração de smartwatches, óculos de Realidade Virtual (RV) e Realidade Aumentada (RA) virá equipada com sensores capazes de detectar sinais neurais, como o eletroencefalograma (EEG).


A especialista acredita que, embora a primeira leva de dispositivos com sensores neurais seja opcional, as próximas gerações os tornarão nativos e essenciais, removendo o atrito de métodos de interação tradicionais, como teclados e mouses. "Assim como você não pode obter um Apple Watch agora sem obter um Apple Watch com um sensor de frequência cardíaca, na segunda e terceira gerações desses dispositivos, acredito que sua única opção será obter os dispositivos que possuem os sensores neurais," afirma.


A pressão para que as empresas transformem dados cerebrais em commodity, seguindo o modelo de "serviço gratuito em troca de dados", é grande. No entanto, Farahany ressalta que é possível construir modelos de negócios diferentes, mas isso exigirá pressão tanto legislativa quanto do lado do consumidor.


A Decodificação de Emoções e a IA


As capacidades da neurotecnologia vão além da simples detecção de estresse, chegando à decodificação de reações emocionais e intenções. Farahany cita exemplos, como em relatos da China, onde trabalhadores foram obrigados a usar headsets de EEG para rastrear suas reações a mensagens comunistas no local de trabalho — uma evidência de que o Estado pode monitorar as reações cerebrais. No ambiente corporativo, a tecnologia poderá ser usada para medir a atenção, a produtividade ou a reação instantânea de um funcionário a uma imagem do chefe.


O papel da IA nesse avanço é crucial. Ao ser treinada em vastos corpus de conhecimento, a IA atua como um "autocompletar muito poderoso para a sua mente", prevendo a próxima palavra ou intenção do indivíduo a partir de sinais neurais parciais. Mark Zuckerberg demonstrou a capacidade de digitar até 50 palavras por minuto apenas "pensando em digitar", um feito impulsionado pela IA generativa na previsão do próximo token.


Hacking Cerebral e o Futuro da Guerra Mental


Farahany alerta que o desbloqueio do cérebro para neuro-interfaces o torna vulnerável a ataques direcionados e hacking. Há duas preocupações principais: obter acesso aos pensamentos e alterar os pensamentos.


Um exemplo notório é o uso de headsets neurais em jogos para injetar avisos subliminares que a mente consciente não percebe, permitindo que hackers extraiam informações sigilosas, como códigos PIN ou endereços. Dispositivos implantados, que são de "leitura e gravação", apresentam um risco ainda maior. Farahany menciona o caso de pacientes com depressão grave, onde eletrodos controlam os sinais neurais para interromper sintomas.


A falta de medidas robustas de segurança cibernética nesses dispositivos levanta a questão: um hacker poderia acessar esses eletrodos e alterar remotamente o que uma pessoa está sentindo ou vivenciando?


Em um cenário mais extremo, a especialista pondera a possibilidade de "guerra mental". Ela relata ter sentido tontura e vertigem após experimentar fones de ouvido que induzem experiências direcionadas, sugerindo que "não é impossível imaginar" o desenvolvimento de armas que poderiam ser direcionadas diretamente ao cérebro de uma pessoa, mesmo remotamente, para induzir desorientação ou danos cerebrais.


Via - RFN

 
 
 

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