Anker paga donos de câmeras Eufy para encenar roubos e treinar IA
- Orlando Santos Cyber Security Brazil
- 7 de out.
- 2 min de leitura

A Anker, empresa chinesa fabricante das populares câmeras de segurança doméstica Eufy, iniciou uma controversa campanha oferecendo dinheiro aos seus usuários em troca de vídeos de roubos de pacotes e veículos, incluindo cenas encenadas. O objetivo era utilizar o material para treinar seus sistemas de Inteligência Artificial (IA), levantando sérias preocupações sobre privacidade e o novo mercado de dados de vigilância.
A iniciativa, que ocorreu entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, prometia pagar aos clientes US$ 2 por vídeo para que eles ajudassem a aprimorar a capacidade da IA em detectar ladrões de carros e pacotes. A Eufy incentivava ativamente a encenação: "Você pode até criar eventos fingindo ser um ladrão e doá-los", dizia o comunicado. A empresa chegou a sugerir que os usuários poderiam "encenar um roubo de porta de carro" para potencialmente ganhar até US$ 80.
O Mercado de Dados de Vigilância e Riscos à Privacidade
A campanha demonstra a intensa demanda das empresas de tecnologia por dados de usuários úteis para o treinamento de modelos de IA, e a disposição dos usuários em monetizar suas próprias informações — ou, neste caso, sua atuação. A Eufy declarou que os vídeos seriam usados "exclusivamente para treinar nossos algoritmos de IA e não para quaisquer outros propósitos".
No entanto, o histórico recente do setor de tecnologia levanta alertas sobre os riscos de segurança e privacidade envolvidos nessa troca. Por exemplo, o aplicativo de chamadas virais Neon foi forçado a sair do ar recentemente após o TechCrunch descobrir uma falha de segurança que permitia aos usuários acessar as gravações e transcrições de chamadas de outros usuários, mesmo após o material ter sido coletado para treinamento de IA.
A campanha da Eufy visava coletar 20.000 vídeos de roubos e arrombamentos. De acordo com comentários de usuários nas páginas de anúncio, mais de 120 clientes participaram, enviando vídeos por meio de um Formulário Google para receber o pagamento via PayPal. A Anker não respondeu aos questionamentos do TechCrunch sobre o número exato de participantes, o total de dinheiro pago ou se os vídeos foram excluídos após o treinamento da IA.
A empresa continua a solicitar ativamente vídeos por meio de campanhas subsequentes, como o "Programa de Doação de Vídeo", oferecendo recompensas que variam de medalhas virtuais a presentes como câmeras e cartões-presente. A Eufy agora solicita principalmente vídeos que envolvam a presença de humanos e mantém um "Mural de Honra" que classifica os maiores doadores. O líder do ranking chegou a doar impressionantes 201.531 vídeos, demonstrando o vasto volume de dados de vigilância que a empresa está acumulando.
A confiança na Eufy para proteger esses dados, no entanto, é abalada por seu histórico. Em 2023, o The Verge revelou que a Anker tentou ocultar o fato de que as transmissões de vídeo dos usuários, que eram promovidas como criptografadas de ponta a ponta, não estavam de fato protegidas ao serem acessadas pelo portal da empresa. Após ser confrontada, a Anker admitiu ter enganado os usuários e prometeu corrigir a falha de segurança.
Via - TC







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